Suspiro
abril 02, 2020
Suspiravam no meu ouvido palavras que eu precisava ouvir.
Falavam frases de afeto, aconchego e carinho. Frases que todo mundo deveria ouvir.
Suspiravam no meu ouvido palavras de amor, palavras calorosas , vinda do fundo do seu ser , como a lava de um vulcão em erupção que em certo momento subia e subia até jorrar totalmente.
E eram palavras motivadoras , palavras que nos colocavam pra cima , que nos motivavam a viver e a querer estar com pessoas que nos fazem bem.
Mas em um momento esse suspiro foi se esvaindo, foi sumindo e eu aflito, comecei a confrontar meu íntimo, comecei a procurar por aquele suspiro e ele ia sumindo, se distanciando por completo.
Eu já não ouvia mais , já não via mais , já não sentia mais.
O escuro tomou conta , o silêncio tomou conta , a frieza tomou conta.
E tudo estava tão diferente, tudo estava tão sem cor , sem vida, como um quadro , uma tela pintada a mão , em um tom de cinza sem traços, sem linhas , sem significado, sem expressão.
Em um certo momento isso me assombrou e por um momento eu comecei a não ligar pra isso, pois já era normal , já fazia parte do meu Eu, do meu ser , da minha vida.
Por um tempo eu vivi nesse quadro cinza , as vezes alguém jogava uma cor diferente, um vermelho vivo, um azul Royal, um verde turquesa e isso lá no fundo me dava esperança.
Me fazia querer
Me fazia existir
Só que rapidamente essas cores eram consumidas por esse cinza fosco, esse cinza apagado , sem luz.
Tentei encontrar o sentido e eu encontrei , eu estava lá , ele estava lá e tudo ficou mais alegre, porém, eu estava ainda naquele quadro cinza e o meu contato com o mundo exterior infelizmente era bloqueado por uma barreira , uma camada de tinta óleo, uma tela invisível.
E eu queria sentir , eu me esforçava pra sentir , mas devido a essa barreira , tudo parecia superficial, sem sentido.
Eu me encontrei e lutei contra tudo, encontrei lá no fundo daquele quadro uma paleta de cores quase acabada e eu as usei.
Comecei a pintar esse quadro com as mais diferentes cores, rosa , amarelo , verde , azul , lilás, roxo, magenta, gelo e não é que esse quadro ficou vivo? Ficou iluminado?
O suspiro voltou , o sussurro ficou mais alto , ele estava se aproximando , e eu fui me aproximando. Aquele não era mais um suspiro, era uma voz , uma voz carinhosa , uma voz amiga , uma voz presente, a sua voz.
E aquela voz em certo momento fez aquele quadro se abrir por completo, fez aquelas cores , aqueles traços se transformarem em realidade.
Fez ele sair para o mundo.
Me fez sair para o mundo.
Eu pude enxergar a luz.
Eu pude me encontrar.
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